domingo, 19 de fevereiro de 2012

O brincar na ótica adulta e infantil


Após seu nascimento, a criança passa a construir seu conceito de mundo. Analisa e observa o mundo a sua volta e percebe a necessidade de pertencer a ele, de ser aceita e de ser alguém de destaque nesse ambiente. Desta maneira ela vai construindo seu saber para então fazer parte do mundo dos adultos.

Nesse processo de aprender a viver, a criança brinca, pois é sua maneira de se manifestar, e enquanto brinca aprende. Para ela – a criança – o brincar é a forma que ela conhece de aprender, de interagir, de produzir e adquirir seu conhecimento. Ela brinca e joga, imitando, criando, observando e produzindo efeitos, tudo dentro de uma atmosfera lúdica, pois é o ambiente que ela conhece.

Para os adultos aquilo não passa de brincadeira, mas para ela aquilo é a coisa mais séria de sua vida, é onde e quando está construindo seu mundo, seu aprendizado, sua trajetória de vida, sua personalidade. Portanto durante toda sua infância, enquanto pensamos que ela brinca, ela apenas esta estudando uma maneira de fazer parte e ser aceita no mundo que a rodeia. Como os adultos chamam isso de brincar, ela aceita como tal, pois ainda não tem a capacidade de construir adjetivos para o seu procedimento, então ela entende que o aprender a viver é chamado de brincar.

Assim sendo, essa atividade lúdica está agindo em seu cérebro ampliando as vias neurais, dando passagem a inúmeras informações, estimulando várias áreas do cérebro pertinentes ao momento daquilo que está fazendo. Enquanto estimula o cérebro em várias áreas, as informações se dividem e saem de seus compartimentos, deflagrando estímulos elétricos múltiplos levando tudo à área de compreensão total, onde é distribuído aos setores específicos pra a realização da tarefa. Tudo isso com movimento e cognição, ação com pensamento previamente elaborado, dentro de táticas e estratégias pessoais para a aquisição do aprendizado, desenvolvendo assim sua metacognição.

Se observarmos atentamente, as crianças iniciam o brincar partindo daquilo que conhecem, e percorrendo um caminho novo a cada momento. Analisando a premissa de Freire, onde diz que o jogo é algo que parte daquilo que é conhecido e se desenvolve a algo novo, percebemos que é exatamente isso que ocorre no brincar infantil, seu jogo tem principio no conhecido, mas termina percorrendo um caminho desconhecido para ela até que faça parte do seu conhecimento.

Ao brincar com outras crianças podemos perceber também as premissas de Vygotsky referentes a Zona de Desenvolvimento Proximal, pois não sabendo o jogo, não conhecendo, ela é prontamente conduzida e mediada por um colega que conhece o caminho. Quando aprende, esta criança já estará pronta para servir como mediadora para aquilo que aprendeu. E assim sendo mediada e mediando, iniciando no conhecido e partindo para o desconhecido, ela vai construindo seu saber, seu conhecimento, sua maneira de ser aceita no mundo dos adultos.

Portanto, devemos desconstruir nosso pensamento paradigmático do brincar, não apenas o brincar na escola, mas o brincar de uma maneira geral, olhar o brincar de uma criança como algo sério, o mais sério procedimento de sua vida, pois é nesse ato simples que ela aprende a viver.

Um dos maiores problemas que o aprendizado escolar apresenta é a falta de capacidade de atenção concentrada ao objeto do saber, quando o professor esta tentando ensinar algo a uma criança, seu maior problema é a dispersão da atenção, pois sua mente não consegue se fixar por muito tempo em um objeto.

Contudo no brincar infantil isso também é assim, sua atenção fica pulando de um fazer a outro, e tudo a distrai, um gato que passa, um anuncio na televisão, outra criança que se aproxima a mãe, o passarinho, afinal tudo faz com que ela não consiga manter sua atenção concentrada em algo por muito tempo.

Porém, ao tentar descobrir o funcionamento de um brinquedo novo, ela começa a neutralizar aos poucos os motivos que distraem sua atenção e passa a resumir seu pensamento no objeto que está de posse. Esta situação vai aos poucos produzindo uma atenção tão concentrada que ela esquece o mundo a sua volta, a ponto de a mãe chamar por e ela não ouvir. Nesse sentido, muitas vezes, a mãe ou então o próprio professor na escola reclama com veemência sua atenção e pergunta se está dormindo. Devemos, porém tomar cuidado com isso pois a criança pode entender que não deve se concentrar demais em alguma coisa só, ou poderá ser chamada a atenção.

Assim sendo, a atitude do brincar é entendida como algo para passar o tempo na ótica de visão dos adultos, apesar de Piaget ressaltar que o brincar infantil não é algo somente para passar o tempo, mas um momento de aprender. Adultos entendem que a criança brinca para ocupar seu tempo livre, sem objetivo ou contexto algum de alguma relevância na construção de sua personalidade.

Enquanto isso, a criança brinca para aprender a viver, para ser aceita no mundo que a rodeia, desenvolve sua personalidade, acrescenta conhecimento diário ao seu viver, e só chama aquilo de brincar porque os adultos assim o nominam, porém para ela aquilo é aprender.

Portanto, existe uma grande diferença no conceito do brincar analisado pela ótica infantil e adulta e o conceito que predomina é o dos adultos, porque a criança ainda não tem capacidade intelectual para expor o que faz enquanto brinca.

Desta forma, essa visão da importância do brincar da criança, como atividade relevante na construção do seu mundo e de sua personalidade, deve ser vista e revista pelos adultos, para que se tenha um olhar mais pedagógico nesta ação.

Um comentário:

  1. Esta capacidade de enxergar,além do brincar, é uma capacidade que poucos tem.No que diz respeito a Educação Física nós sabemos,no brincar,as crianças criam reações,emoções,vivênciam com muita intensidade o momento.E isto sim, vai fazer a diferença na vida destes alunos quando chegarem a idade adulta.
    Você mestre...Ve além,aquilo que muitos ainda nem sabem que vai existir...Parabéns!!

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