sexta-feira, 1 de maio de 2009

JOGO

O JOGO NA CONSTRUÇÃO DO SER HUMANO E NO SEU PENSAR

Ao longo dos anos de experiência no trabalho com pessoas de várias idades sempre jogando com eles e ensinando a jogar, percebi que aqueles que entendem o jogo e que o desenvolvem de forma harmônica, competitiva e alegre, no sentido de conquistar vitórias, mas neste caminho conquistar muito mais amigos que inimigos tornam-se pessoas de cabeça pensante não apenas nos movimentos que o jogo proporciona, mas sim e também na forma de entender a vida, entender a política, entender princípios de democracia, de solidariedade, enfim tem uma melhor estrutura cerebral para entender o mundo e seus problemas, atuando mais concretamente na ajuda a uma busca de soluções.
Isto nos remete a dedução que ao pensar para desenvolver o jogo ao qual esta inserida a pessoa desenvolve juntamente uma capacidade de pensar ampliada, o que lhe facilita o entendimento geral do mundo e da vida.
Analisando a influencia e o poder do jogo em modificar e atuar na modificação do pensamento do ser humano, percebemos o ocorrido é o aumento da capacidade de utilização da rede neuronal, o que da uma ampliação na capacidade de pensar, e de entender tudo o que está a sua volta. Isto porque o jogo na verdade é uma estrutura complexa que exige do seu executante um grau elevado no nível de raciocínio.
Ao jogar a pessoa coloca em ação várias áreas do cérebro ao mesmo tempo, atuando de forma coordenada, exigindo deste uma ampliação da rede neuronal e um aumento na velocidade dos impulsos elétricos para acompanhar os movimentos do jogo, que apesar de partirem de ações individuais, são desenvolvidas de maneira conjunta, em situações de ataque, defesa e contra ataque, dentro de variações de táticas e estratégias, com elementos variáveis, objetivando uma conquista final, expandindo a forma de agir, de atuar e de lutar pelo bem coletivo, transformando desta forma o sujeito.

Palavras chave: Jogo, Ataque, Defesa, Contra ataque, Tática, Estratégia.



O Jogo
O jogo exige para o seu desenvolvimento uma serie de requisitos que deverão ser entendidos de forma distinta, porém realizados de forma conjunta. Devemos separar as várias fazes do jogo para a sua compreensão, porém não podemos separá-las para a sua execução. O jogo envolve elementos tais como; ataque; defesa; contra ataque; táticas; estratégias; níveis de risco alem de elementos variáveis como; torcida a favor; torcida contra, temperatura; altitude, uniformes, calçados, implementos para jogar entre outros. Portanto para atuar em um jogo o ser humano precisa desenvolver as inteligências: Lógica, Lingüística, inter pessoal, intra pessoal, corpóreo cinestésica, espacial, emocional.
É muito comum percebermos jogos onde alguns de seus executantes não estão conseguindo discernir com clareza qual momento do jogo estão desenvolvendo, muitas vezes quando a pressão da partida atinge altos índices de stress, o atleta pode não lembrar se esta atacando, defendendo ou contra atacando. A primeira vista isto pode parecer estranho e impossível, mas é o que acontece muitas vezes.
Para solucionar este problema, devemos deixar claro aos executantes as fases do jogo, e ensina-los a distinguir qual momento estão vivenciando, quais as táticas e estratégias adequadas para cada momento do jogo.
Inicialmente podemos dividir o jogo em três partes distintas: o ataque, a defesa e o contra ataque, estabelecer uma tática clara, e orientar uma estratégia flexível, analisar as variáveis do jogo tais como: Níveis de risco que podemos correr quais as pessoas que iremos utilizar como serão escalados e em quais momentos, qual a força total do nosso grupo e do grupo adversário, qual a força individual do nosso grupo e do grupo adversário, entre outros.
Em seguida analisar as competências para desenvolver o jogo, ou seja, técnica individual dos elementos, a técnica coletiva, ou como fica o conjunto das ações individuais, nível físico e psicológico dos componentes da equipe.




Fundamentos Essenciais Relativos A Prática Do Jogo

O Curso do jogo esportivo é relativamente simples, pois em poder do objeto do jogo (bola) e leva-lo até o objetivo (cesta, ponto, gol). Certamente é sabido que irá vencer aquele que conseguir marcar o maior numero de gols, ou cestas, ou pontos, tendo pela frente obstáculos de transposição construídos pelo adversário que tem a mesma intenção, ou seja, a vitória.
Portanto, o jogo é um problema que se apresenta, e que deverá ser resolvido de forma coletiva, através de ações individuais. A qualificação destas ações individuais é que irão determinar a qualidade das ações coletivas na forma de produção de obstáculos, ou na forma de transposição dos obstáculos encontrados durante a tentativa da conquista do objetivo.
Equivale a dizer, que na produção de movimentos para superar o adversário, será individualmente e como equipe, uma seqüência de movimentos que necessitarão de várias capacidades e habilidades, as quais irão determinar o sucesso ou o fracasso da tentativa de vitória durante aquele jogo.
Neste contexto, os fundamentos básicos individuais essenciais para a produção de obstáculos assim como para sua transposição são: Individuais; passe, arremate, domínio da bola, movimentação com e sem a bola, drible e finta, defesa e desarme. Físicos; força, velocidade em suas variáveis, resistência, potencia, agilidade. Psicologias; paciência, controle emocional, empatia, raciocínio lógico e abstrato, capacidade de planejamento rápido entre outros.
Os fundamentos básicos coletivos essenciais são, capacidade de conhecer as táticas e suas variáveis, capacidade de elaborar estratégias e flexibiliza-las nos momentos oportunos, capacidade de fazer a leitura do jogo, capacidade de determinar o ritmo do jogo, capacidade de produzir defesa e elaborar coberturas, capacidade de produzir ataques e dar apoio, velocidade de reação no posicionamento de contra ataque entre outros.

Desenvolvendo o Jogo

Quando já consciente do funcionamento estrutural do jogo, poderá então o grupo iniciar o jogo. Inicialmente é preciso fazer a leitura do jogo, de como o jogo esta acontecendo, quais são as táticas utilizadas pelas equipes, que tipo de estratégias poderá ser utilizada ou qual a estratégia utilizado pelo adversário, quais os pontos fortes e fracos das equipes, como tirar proveito disso, e como fazer quando a adversário percebe em nós um ponto fraco e começa a explorar.
Em seguida fazer uma releitura de como esta o jogo neste momento, de onde ele veio e como veio até aqui, e partindo daqui para onde o jogo se encaminha e de que forma percorrerá este caminho. Isso implica em saber o que fazer para mudar o jogo, ou o que o adversário poderá fazer para mudar este jogo, e qual nosso procedimento se o jogo mudar, qual a nossa qualificação para fazer o que?
Na parte física, como esta o ritmo do jogo, podemos sustentá-lo até o fim, poderemos aumentar o ritmo, o volume do ataque esta suficiente, estamos empregando a força necessária para o ritmo atual, precisamos de mais velocidade, ou mais explosão, poderemos sustentar o ritmo de explosão necessário ou temos que diminuir o ritmo?
Taticamente, qual nossa atitude de defesa, como o adversário montou sua defesa, quais são seus pontos vulneráveis, qual a velocidade de transição para o contra ataque, o contra ataque é produtivo ou esta perigoso, que estratégia de contra ataque adotar diante da qualificação do adversário, qual a precisão e a qualidade das ações individuais de ambas a s equipes?
Todos estes itens fazem parte do jogo objetivo, porém não poderemos esquecer do jogo subjetivo, aquele poderá fazer uma grande diferença no resultado, porém não o aparece no objetivo.
Assim sendo, como foi feito a construção mental antes do jogo, como pensar o jogo, antes e durante, como intuir, como construir o jogo subjetivamente para aflorar objetivamente com sucesso, como utilizar um sistema de signos no inconsciente coletivo, como acionar no coletivo o sistema de subsunção para deflagrar o sistema de signos.
E ainda, qual o sentimento que prevalece nos jogadores, o medo, a empáfia, o respeito, a seriedade a alegria, a segurança, a tranqüilidade, pois estes sentimentos deverão influenciar muito na tomada de decisões.


A TRANSPOSIÇÃO DE OBSTÁCULOS (Ataque)

Uma vez iniciado o jogo, na sua seqüência irão aparecer obstáculos para serem transpostos. Analisando comentários após o término de um jogo, percebemos que quanto maior o número de obstáculos a serem transpostos de ambas as partes, maior a euforia do combate realizado. Muitas vezes a partida foi tão cheia de obstáculos, que vencedores e vencidos estão se sentindo bem com o combate realizado.
Ao observarmos crianças, quando brincam sozinhas, ou em grupos reduzidos, elas mesmas produzem obstáculos imóveis ou fictícios que é para o jogo “ter mais graça”, portanto, a produção e a transposição de obstáculos durante a realização de uma partida é o que dá sentido ao jogo.
Para Zun Tzu, você pode se defender ferrenhamente e não perder uma batalha ou duas, porém para ganhar uma guerra e principalmente para conquistar um reino, você precisa além de uma defesa forte, um corpo de homens selecionados, preparados e qualificados para o ataque. Uma força de ataque para ser bem sucedida, deverá cair em cima do adversário como uma águia em sua vitima, sem que a mesma tenha tempo de reagir, portanto, ao entrarmos na disputa de um campeonato, se quisermos ser campeões, precisamos selecionar treinar e qualificar homens para o ataque e contra ataque, entretanto estes homens selecionados e preparados para tal, devem entender a raiz de como irão acontecer estas ações ofensivas na conquista da vitória

PRODUÇÃO DE MOVIMENTOS DE ATAQUE

Quando vamos desferir o golpe fatal do ataque deveremos fazer com que o adversário pense que estamos perdidos e desorientados. Isto posto, ele ira relaxar na defesa, ira transferir o pensamento de defender e pensar em se apropriar da bola para consignar o gol, este é o momento de desferir o golpe fatal. Nesta tentativa de produção de movimentos ofensivos os jogadores devem ter a consciência de quais as ações que envolvem uma boa produção de ataque.


MOVIMENTOS COMBINADOS

Ao colocar uma equipe para desenvolver um jogo, necessariamente seus componentes precisarão combinar alguns movimentos e posicionamentos, esta organização surge naturalmente em qualquer equipe, quando os atletas começam a fazer a leitura do jogo.
Desta de combinação de movimentos, nasce a necessidade da intervenção do treinador, que irá administrar e treinar estes movimentos para que façam parte do conjunto da equipe, isto é, que pertençam ao engrama coletivo da equipe.
Estes movimentos combinados são conhecidos popularmente como “Jogadas Ensaiadas”, na produção de movimentos ofensivos, necessariamente e naturalmente busca-se a combinação destes movimentos entre seus integrantes, portanto, treina-los é primordial.
Ao treinarem jogadas combinadas, o treinador deverá ampliar o leque de ramificações desta jogada, e implanta-lo na memória inconsciente dos atletas, para que ao se deparar com um obstáculo colocado em seu caminho, seu engrama acione subsunsores que encontrem uma saída rápida, natural e entendida por todos.
Assim sendo, precisamos reconhecer a característica pessoal de cada um dos integrantes do grupo com o qual trabalhamos, e criar a jogada dentro destas características, e não desenhar qualquer coisa em um papel e exigir de atletas sua execução sem a prévia avaliação da capacidade pessoal de cada um para aquele desenho.

MOVIMENTOS EXPONTÂNEOS
Quando estamos dirigindo um veiculo em uma cidade conhecida, ao encontramos um obstáculo que não permita seguir passagem por aquele caminho, imediatamente e sem pensar, desviamos espontaneamente e encontramos um caminho alternativo para chegar ao fim. Isto acontece porque nosso conhecimento do local e das redondezas é amplo, e temos em nossa memória inconsciente um mapa completo da região.
Ao oportunizarmos aos atletas, uma infinidade de movimentos espontâneos, estaremos deixando que os mesmos criem em sua memória motora um amplo mapa de movimentos com várias saídas para desviar obstáculos quando o adversário o produzir, além disso, com um grande mapa de movimentos no inconsciente coletivo, será fácil ao treinador, desenhar jogada para combinar, pois se houver algum obstáculo no caminho, a variante aparecerá espontaneamente.


SITUAÇÕES ESPECIAIS (CONTRA ATAQUE)

O contra ataque, parte de uma situação de desvantagem para uma posição de vantagem. Desvantagem, porque para sair em contra ataque a equipe precisa estar sofrendo um ataque do adversário, vantagem porque ao perder a bola o adversário demora alguns segundo para inverter no cérebro a posição de agressor para agredido.
Assim sendo, em vantagem numérica, se usar a velocidade de passes, com flutuação de bola em direções opostas, o adversário não terá a condição de reagrupar e organizar a defesa a tempo.
Entretanto, o contra ataque é uma arma poderosa, e como toda arma se não for bem utilizada poderá se voltar contra a própria equipe, pois existe o perigo de ao se lançar ao contra ataque, não concluí-lo, deixando a bola viva, esta poderá voltar contra si próprio.
Para a produção de um bom contra ataque, a equipe deve, possuir uma boa troca de passes, fazer a bola andar rápido, trocar a bola de direção para fazer a cabeça dos defensores rodar, ser objetivo, ter uma boa movimentação sem bola, e concluir.

A PRODUÇÃO DE OBSTÁCULOS (DEFESA)

Os grandes guerreiros, sempre se colocam em uma posição que torne a derrota impossível, desta forma o adversário percebe que não conseguirá vencer, e fica apenas esperando o momento da derrota.
Um reino ao tentar conquistar outro reino, só o poderá fazer, se suas defesas forem sólidas, pois ao se lançar ao ataque na conquista de um reino com sua defesa fraca, certamente um terceiro governante irá ocupar o país desguarnecido na defesa.
Portanto, a solidez de uma equipe esta na capacidade de sua produção de obstáculos impedindo que adversários penetrem em seu território defensivo sem levar um contra golpe mortal.
Jogar com um adversário com defesa intransponível, é saber que a qualquer momento sua equipe levará um gol e perderá o jogo. E de acordo com Vanderlei Luxemburgo, o medo de perder tira a vontade de ganhar.
Contudo, a produção de obstáculos é uma questão de atitude pessoal, muitos treinadores passam a vida ensinando seu atletas a atacar, as crianças crescem com instinto de ataque, os pais e a sociedade esportiva valoriza o ataque, desta forma, o plano de defesa no esporte é sempre olhado como sendo demonstrativo de qualidade inferior.
Entretanto, o que da segurança a uma equipe, a seu jogadores, seus dirigentes, e até a torcida, é perceber que sua defesa é sólida.


Conclusão

Portanto, fazendo uma analise das situações que o jogo proporciona evidencia-se que o mesmo auxilia na construção do pensar do ser humano. Toda a vivencia do jogo, toda a analise que ocorre durante o jogo, toda a preparação para desenvolver um jogo, todo envolvimento das pessoas no desenvolvimento, preparação e entendimentos das táticas e estratégias fazem com que o cérebro humano seja ampliado em sua ramificação neuronal útil, estabelecendo mudanças significativas no pensar daquele que esta inserido no contexto do jogo.
Portanto, aqueles profissionais que trabalham com pessoas no desenvolvimento de jogos, caso de treinadores e professores em educação física, deverão estar atentos para que tipo de influência estão proporcionando ao cérebro e ao pensar daqueles que estão ao seu comando.


Bibliografia


COLETIVO DE AUTORES. Educação Física & esportes. Perspectivas para o Século XXI, Papirus; Campinas, 2003.

TANI, Go et al. Educação Física Escolar Fundamentos de uma abordagem desenvolvimentista. E.P.U. São Paulo, 2002.

KUNZ, Elenor – Educação Física – Ensino e Mudanças – Unijui Ijui 2001

TUBINO, M. G. e MOREIRA S. B. Metodologia Científica do Treinamento Desportivo

ZUN TZU,; A Arte da Guerra, Madras São Paulo – 2008